terça-feira, 10 de abril de 2012

Conto

Difícil é esperar você entrar pela porta, segurando o celular esperando uma ligação.
O tempo passa e a porta não abre, o telefone não toca. Sua ausência me trazendo angústia enquanto estou acordado. A vodka deixa de fazer efeito mesmo nas doses mais puras e assim as noites ficam mais solitárias. A cada trago morre um pouco da esprença de te ver voltando sorrindo e dizendo o quão foram insuportáveis os dias em que não passamos juntos.
O gosto amargo do pé na bunda não sai dos meus lábios, olho os lençóis que durmimos juntos e ainda sinto seu cheiro. Tomo outra dose, ainda sem efeito. Me sento em frente ao computador e fico inexpressivo olhando o celular, esperando uma mensagem ou uma ligação mesmo que for pra dizer que não vem, que nunca mais virá. A indiferença ganhou voz e no meu coração ficou apenas o vazio.
O vento (ás vezes um pouco mais forte que o habitual) faz a janela balançar e eu corro até a sala esperando que seja você, como se eu não soubesse que o vento sempre fica mais presente nessa hora da noite. Sei também que você não entraria sem avisar, por isso esperava tanto esta maldita mensagem. Me dizendo que estava entrando e que sentia minha falta.
De repente o celular toca! Minha mãos tremem e meus olhos brilham, desesperadamente destravo o celular e abro a mensagem. No fundo eu sabia que não era ela, más isso não me impedia de implorar a deus que fosse. Não eu não quero concorrer a uma Tv de 32". Na verdade eu doaria a minha Tv se fosse preciso pra essa mensagem ter sido sua.
Outra mensagem! E amigos que nunca me ligam resolvem comprovar sua existência logo agora. Recuso outro convite para sair, não seria justo com o meu sofrimento andar entre estranhos, correndo o risco de te ver no meio da festa, se encontrando em outros corpos. Última dose! E até a vodka resolveu me deixar nesta noite. Quero sair, comprar mais! Talvez de outra marca, pois essa ainda me deixou consciente. Acabo mudando de idéia, a noite é muito perigosa para quem está ferido.
Passo a mão sobre o rosto, coço o cabelo e continuo olhando para o celular, que continua imóvel. Pego na mão. Confirmo se está com bateria, se a antena está dando sinal ou se não está no silêncioso. O que é uma estupídez, pois olho tão fixamente para o aparelho que não haveria problema nenhum em estar no silêncioso. Más está tudo ok.
O problema deve estar no celular dela! As vezes acontecia de não chegar as mensagens que ela me mandava. Maldita operadora de celular. Dizia não ter fronteiras, más sempre barrava nossas conversas via sms. Só que dessa vez o problema não era no celular dela, eu sei disso. Se fosse ela me ligaria. Com certeza ela me ligaria. E ela não ligou.
Começo a me acostumar com as velhas paredes (que deixaram de ser brancas com o passar dos anos e dos pés cheios de poeira nas partes próximas a cama ) sendo minha única companhia nesta noite que até a vodka me abandonou.
Quando tudo parecia perdido, você entrou (pela primeira vez sem avisar)! E disse:
- Trouxe sua garrafa de uísque.
Imediatamente virou as costas indo em direção ao carro. Pensei em deixá-la ir, pensei em não correr e pedir pra ficar. Não pensei o suficiente!
Ela estava fria, tão distante quanto um sonho irreal. Quase não olhava nos meus olhos e fazia pouco caso do meu desespero. Sentou-se. Ascendeu um cigarro, seu olhar cada vez mais distante.
Tentamos conversar por alguns minutos e ela me disse que eu queria muito pouco para estar ao lado dela. Mais um trago e (ao som de buckethead) me sentia tão incapaz que comecei a duvidar das minhas próprias crenças.
Eu sei, ela tem razão.
Nossa relação era muito perigosa, eu entrei em um mundo que não pertencia e ela me acolheu de braços abertos. Todos sabiam que não iria durar, só não sabiam que seria tão especial.
Por fim, tentei o tato. Como antigamente, passei levemente minhas mão trêmulas de desespero em seus cabelos. Ela recuou. Tentei outra vez e ela revidou com indiferença.
Disse:
- Está tarde! Vou embora.
E meu olhar se perdeu no vazio de vê-la pelas costas. Meu coração bateu forte e no fundo da minha alma eu sabia que estava, novamente, sozinho.